Pode ser simplesmente mais uma esquisitice que vem somar-se a outras, quando, de onde estamos, podemos
avistar a esquina dos cinquenta. Pode ser. Mas a verdade é que sempre fui avesso à multidões.
O coletivo de gente me incomoda um bocado, e não apenas pela educação que ali se extingue ou pela suspeita de que algo pode dar iminentemente muito errado, mas sobretudo porque deixamos de ser seres únicos, embora parecidos em aspirações e medos, e passamos a fazer parte de uma massa. O curioso é que nessas situações a ideia de consciente coletivo, o tal senso comum, evapora-se e ficamos progressivamente mais parecidos a um bando. (A expressão “estouro de boiada” exige sua participação neste texto, nem que seja só uma citação entre parênteses).
Grupos pequenos, nos quais posso ser percebido e perceber o outro, é sem dúvida a minha escolha. Fugir da hora do rush seja no trânsito, na praia ou na quitanda; cair fora do horário de pico e, por exemplo, poder cumprimentar estranhos sendo então correspondido; ser recebido com atenção pelo balconista da padaria – que nesses casos é até capaz de lembrar como gosto do pão francês: nem tostado, nem claro demais; ou chegar e sair da praia no tempo exato que o trajeto leva estando livre. Prazeres simples, mas que opõem-se diametralmente à sensação de sermos engolidos, sem uma segunda chance e sem que ninguém note, quando estamos em meio à multidão.
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