sexta-feira, 14 de março de 2014

O hamster


Vida boa. Sem motivos nem objetivos, desafios ou preocupações. Ração e água servidas regularmente. Não causa incômodo, nem exige atenção ou cuidados. Bem por
isso é alvo constante de elogios e comentários gentis. Quando sente-se entediado vai até a roda e ali fica por um bom tempo. Correndo atrás do nada. A roda é uma bela distração, e é de graça.
Não precisa fugir de predadores e muito menos sair à caça. As únicas coisas que o tiram da inércia são a roda e o trajeto até a ração periódica. Se falta ração ele fica triste e faz beicinho. Se a roda trava ele fica triste e finge revolta. Mas não protesta, porque isso não é de sua natureza.
O hamster é apenas um serzinho dócil. Tanto que nunca precisou ser domesticado. É tido como um exemplo de simpatia e passividade. A maior prova disso é que ele é uma ótima cobaia.
De quando em quando ensaia uma demonstração de coragem, como se fosse dotado de personalidade ou consciência. Na verdade ele faz isso apenas para exibir-se. Carência latente. E, caso passe dos limites, é logo colocado em uma gaiola menor, cuja roda está emperrada. Como não suporta o castigo, volta rapidamente a ser o que era: um serzinho dócil, incapaz de tomar qualquer atitude. Pelo menos assim ele garante ração e roda. Espertinho!

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