terça-feira, 27 de maio de 2014
Presente
Ouço quatro conversas distantes e indecifráveis. Uma ou outra palavra se distingue, mas isso não importa. O que fica, enquanto ouço esse murmúrio de vozes que conheço,
é uma impressão de distanciamento terno, quase uma saudade. Fui pego de surpresa por um vazio antecipado, um prenúncio de uma emoção que pressinto imensa.
A mente dispara um curta-metragem dirigido pela nostalgia. Em breve ficarei melancólico. Por hora tenho os olhos turvos e vidrados em algum ponto do ar ali fora.
O som que prevalece neste instante é o de motores e freios, além de algumas buzinadas calmas. É um som estranhamente harmonioso, filtrado pela plantação de palmeiras que ladeia o prédio.
Voltam as vozes, agora misturadas aos ruídos dos motores e de cargas levemente sacudidas durante o contorno da rotatória.
A melancolia ensaiou uma invasão, mas recuou ao notar meu foco na construção de um texto no qual ela é apenas mencionada. Engraçado pensar sobre atenção, sobre concentração, quando o sentimento mais largo é abstrato e etéreo. É como brincar de fundir óleo em água, ou como querer transformar emoção em razão.
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