quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Tia Zefa


Figura folclórica para mim, garantem os mais velhos que ela existiu.

Quando a tia Zefa entrava em qualquer ambiente e era notada o assunto e o tom da conversa rapidamente
mudavam. Mudavam para algo mais brando e impessoal, algo sobre a louca variação do clima ou a passagem rápida dos dias e anos. A propósito estes dois temas são bem mais antigos do que se supõe. Mas o motivo do repentino câmbio era simplesmente porque tia Zefa não perdia sequer uma oportunidade de fulminar qualquer um com seus comentários tanto ácidos quanto intrometidos. Ela tinha conclusões e conceitos para tudo. Era impressionante a tal tia Zefa, é o que me contaram.

Fico pensando sobre esse nome. Zefa. Nunca questionei meus pais ou tios, mas acredito que seja um apelido para Josefa. E Josefa por sua vez talvez seja o feminino desesperado para José, quando já havia umas três Marias na família. Mas tudo isso é especulação, no que aliás, tia Zefa era mestra. Ela podia convencer qualquer um sobre um ponto de vista seu, mesmo sem fundamento e, principalmente, sem que tivesse sido solicitado. Tia Zefa, tia Zefa... tenho a leve impressão de que não nos daríamos bem caso fôssemos contemporâneos.

O lado cômico da história surgiu logo após alguns anos de sua morte. Tia Zefa virou sinônimo de bisbilhoteira, intrometida, leviana, faladeira, caracterizando o comportamento "entrão" de quem não é chamado a opinar e mesmo assim se aventura, sem papas na língua.

Muitas vezes ouvi meu pai lançar um sonoro "Tia Zefa!" logo após um pitaco dessa natureza ter sido liberado no ambiente em que ele estava, sempre entre pessoas da família, claro, caso contrário ninguém entenderia. Acho que meu pai foi quem mais usou este recurso que, diga-se, era certeiro. Calava um e fazia o restante desabar em gargalhadas. Meu pai era irônico, tia Zefa, nariguda.

Dizem que a gente deixa um pouco da gente espalhado por aí depois que morre. Acredito, pois tia Zefa vive.

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