Advertência: Nesta
crônica faço uso por duas vezes da palavra gay que, no “My Supreme
Dictionary of English”, não é o feminino de guy e muito menos o masculino de
girl. É simplesmente gay. Sendo assim, caso possua você querido leitor algum
grau de gayfobia, recomendo que leia, uma vez que o personagem, veja só, na
verdade não é gay, muito embora tenha sido confundido com um. Dito isto acabo
de tirar talvez a única graça que pensava ter colocado na referida crônica,
exatamente como fiz em “Passagem para Córdoba”.
O Cartaz
Ele não se chamava
Pedro e não era gay, mas estava de fato desempregado.
A timidez de Pietro
o tornava um ser invisível, como
acreditava, no Edifício Le Miroir onde morava
havia já sete anos. Depois que quebrou o grande espelho do hall em
circunstâncias enigmáticas, fato que não podia assumir porque simplesmente não
lembrava, mas que, porém, não podia negar devido às cicatrizes que carrega em
ambos os braços, Pietro não participava mais das reuniões de condomínio, mesmo que
isto o trouxesse reveses.
Ultimamente adotara
o hábito de usar chapéu, sempre em tons de marinho ou cinza, cuja sombra cobria
seu rosto pálido afastando a hipótese de um rápido reconhecimento, como
acreditava. Evitava até mesmo as efêmeras conversas no elevador, abaixando o
rosto para o jornal.
Mesmo tendo criado
tais estratagemas e, muito por causa delas, os vizinhos faziam de “Pedro, o gay desempregado” um dos assuntos mais recorrentes
e frutíferos.
Certa tarde,
escondendo-se na penumbra das sombras dos ipês floridos, a cinquenta metros da
entrada do prédio, Pietro assistiu estarrecido à finalização da instalação de
um cartaz que ocupava toda a lateral do Edifício Le Miroir. No cartaz
ele aparecia seminu ao lado de outros modelos numa propaganda de cuecas pra lá
de ousadas.
A aprovação da colocação do anúncio foi decidida em assembleia recente do condomínio.
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