terça-feira, 16 de junho de 2015

O Cartaz

Advertência: Nesta crônica faço uso por duas vezes da palavra gay que, no “My Supreme Dictionary of English”, não é o feminino de guy e muito menos o masculino de girl. É simplesmente gay. Sendo assim, caso possua você querido leitor algum grau de gayfobia, recomendo que leia, uma vez que o personagem, veja só, na verdade não é gay, muito embora tenha sido confundido com um. Dito isto acabo de tirar talvez a única graça que pensava ter colocado na referida crônica, exatamente como fiz em “Passagem para Córdoba”.



O Cartaz

Ele não se chamava Pedro e não era gay, mas estava de fato desempregado.

A timidez de Pietro o tornava um ser invisível, como
acreditava, no Edifício Le Miroir onde morava havia já sete anos. Depois que quebrou o grande espelho do hall em circunstâncias enigmáticas, fato que não podia assumir porque simplesmente não lembrava, mas que, porém, não podia negar devido às cicatrizes que carrega em ambos os braços, Pietro não participava mais das reuniões de condomínio, mesmo que isto o trouxesse reveses.

Ultimamente adotara o hábito de usar chapéu, sempre em tons de marinho ou cinza, cuja sombra cobria seu rosto pálido afastando a hipótese de um rápido reconhecimento, como acreditava. Evitava até mesmo as efêmeras conversas no elevador, abaixando o rosto para o jornal.

Mesmo tendo criado tais estratagemas e, muito por causa delas, os vizinhos faziam de “Pedro, o gay desempregado” um dos assuntos mais recorrentes e frutíferos.

Certa tarde, escondendo-se na penumbra das sombras dos ipês floridos, a cinquenta metros da entrada do prédio, Pietro assistiu estarrecido à finalização da instalação de um cartaz que ocupava toda a lateral do Edifício Le Miroir. No cartaz ele aparecia seminu ao lado de outros modelos numa propaganda de cuecas pra lá de ousadas.

A aprovação da colocação do anúncio foi decidida em assembleia recente do condomínio.

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