Advertência: Na
crônica a seguir faço uso de uma palavra divertida, melódica e dissílaba, a
saber, puta. Tal advertência pede um esclarecimento: Ao consultar o “Meu
Dicionário Soberano de Português” verifiquei que precisamente como Sra. está
para senhora, puta está para prostituta, que aliás não passa de uma palavra sem
graça, cacofônica e polissílaba. Portanto não entre em choque, a preferência é
meramente estética, diferentemente do que fiz na crônica “O Cartaz”.
Passagem para Córdoba
— Então, o que você
faz pra ganhar a vida? — Perguntei um tanto incomodado pelo silêncio
patagônico que tentava
instalar-se naquela minúscula sala de embarque.
E ela, muito
sorridente: — Ah, sou modelo, atriz e...
— Nossa! Modelo...
atriz... e ainda consegue exercer alguma outra atividade?!? — Interrompi com
minha típica grosseria portenha disfarçada de curiosidade.
— Claro! Na verdade
ganho a vida mesmo é como stripper, tirand...
Interrompi a moça
novamente: — Hmm, você se refere à danças exóticas e performances teatrais?
— Não moço, sou puta
mesmo. Tiro a roupa no quarto antes de deitar com o cliente. Este é o meu show.
Já era tarde, mas
passei a preferir o silêncio patagônico. Não pela revelação que a moça acabara
de fazer e sim por me sentir constrangido com aquilo. E diante de tamanha
naturalidade!
O sistema de som
anunciou em voz levemente picotada: “Senhores passageiros com destino a Córdoba, queiram por gentileza comparecer ao portão de embarque tendo à mão sua
identificação”.
Era a deixa para
encerrar a conversa mas decidi prosseguir mesmo que vacilante: — E o que a
realiza mais?
E ela, ao perceber
meu desconserto disparou: — Dar eu dou, sabe moço, mas me realizo mesmo nessa
tal performance teatral que você falou aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário