Conto de véspera

 

Já era dezembro e o mais gostoso de dezembro era o Natal. Ah, o fim das aulas também era bom, mas o Natal... Especialmente naquela manhã, em que eu estava com meu pai

indo dar uma ajudinha a Papai Noel, que andava meio sem ideia.

Enquanto esperávamos o ônibus, eu percebi que tudo ao meu redor estava diferente. Havia um homem gordo e barbudo, com uma mochila grande. Um Papai Noel negro? De ônibus? Não sei. Uma garota muito alta passou rápido entregando panfletos de uma loja de carros - imaginei o que eu teria que fazer durante o ano para merecer um carro de presente! Até um cachorro novo apareceu, cheirando tudo e fazendo xixi por toda parte. Meu pai explicou que eles fazem isso para marcar território. Ainda bem que os humanos não têm essa mania. Ou têm? Mas eu sabia que o território ali era do Pico, o vira-latas mais simpático do bairro. Todas as manhãs Pico surgia do nada, só para dar tchau com o rabo. Ele vivia nas ruas mas era feliz. Alguém devia cuidar dele.

Um elástico transitando entre meus dedos fez todo aquele tempo parecer nada. Dava para formar figuras novas, outras repetidas, algumas meio confusas - um emaranhado às vezes difícil de desmanchar - mas era bom criar e descriar coisas!

Estar ali, ao lado de meu pai naquela manhã, tornava-me mais seguro e permitia que meus pensamentos tomassem a forma que quisessem, as mais bonitas. O ônibus podia até demorar, ou  simplesmente desaparecer. Tudo estava bem ao lado de meu herói preferido. Aquele que tinha até o número do celular do Papai Noel, daria um jeito em qualquer situação difícil.

***

Há um momento em que a fantasia dá lugar ao sonho. É o que chamamos maturidade. Um dia Papai Noel vira folclore, mas o herói da nossa vida, este não morre.

O melhor da vida a gente aprende vivendo. E as melhores coisas são de graça e nós já temos.

Boas festas e tudo de bom em 2014!