sábado, 22 de fevereiro de 2014

D


"Lembra aquela morena gostosa que quase acabou com seu casamento o ano passado?" Dedé estremeceu mas logo fez um
sinal de afirmação com a cabeça.
Era estranho que Dedé fosse chamado assim. Um homem já na casa dos quarenta, sedentário, cabelos tomados por um tom de cinza um pouco triste. Mas era dessa forma que ele fazia questão de ser tratado. Dedé. Dizia que era o que lhe restava da juventude distante, além, claro, do caso meteórico e quase catastrófico que tivera com "aquela morena gostosa".

"Então, Dedé, aquele mulherão mudou lá pro meu prédio, rapaz! Agora, tu não sabe da maior!" Dedé franziu a testa intrigado. "Maior o quê? Não tenho nada com ela e nem quero ter, tu sabe, né Rabisco! Vê lá, hein!"
Rabisco era o jeito carinhoso com que Dedé tratava o Dirceu. Um cara atrapalhado, que vivia se metendo em enrascadas sérias, coisa de uma vez ter tido que se esconder por dias, até que um mal-entendido fosse totalmente desfeito; caso contrário poderia ter-lhe custado a vida. Era Rabisco por causa desse jeito sem conserto, a meter os pés pelas mãos, a entrar em confusões alheias totalmente sem intenção. Simplesmente, quando notavam, tava lá o Rabisco todo enrolado.
"Rapaz, ela apareceu ontem na porta de casa coberta só com uma toalha, recém saída do banho! Quase caí duro! Dedé
, Dedé... Escuta só... Ela foi "mostrar uma coisinha", toda dengosa, derretidinha... E mostrou, Dedé, ela mostrou!"
A essa altura Dedé e Rabisco haviam feito uma regressão espontânea ali para faixa dos 18 anos, tamanha era a empolgação refletida em contrações de músculos e lábios, olhos apertados e gemidos surdos.
A morena mostrou sua nova tatuagem, feita num lugarzinho que outrora fora íntimo. Era uma letra, complementada com "amor da minha vida".

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