Beção leva sempre na mochila um colírio; desses que maconheiro não vive sem, se não quer dar bandeira. Um dia o viram usando o tal colírio no meio do expediente e,
você sabe, há quem não segure a língua: "Ô, Beção, manera que isso ainda vai extinguir seus neurônios, hein! Vai ser uma hecatombe, pega leve!".
À observação nada sutil seguiu-se uma salva de gargalhadas debochadas, a qual Beção, serenamente, aguardou o fim. Após uma breve pausa ele se saiu com esta: "Olha só, nem todo olho vermelho é isso que tu tá insinuando, ô mané!". E com um sorriso cínico, porém cheio de paz, e a voz meio exprimida, completou: "Mas se este fosse o caso, o bagulho era bom mesmo, porque faz trinta e dois anos que eu dei uma bolinha pela última vez!"
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