sábado, 31 de agosto de 2013

Tema livre


Sempre fui tomado por algo entre satisfação e pavor quando o professor anunciava, do alto de sua quase celestial autoridade, "redação - longa pausa - tema livre".
Na faculdade de design igualmente acontecia,
mas já não era redação, era a repentina. Uma espécie de competição contra o tempo e contra a temível e oportunista falta de criatividade, brilhantemente resumida na expressão "deu branco".
Acontecia assim, a aula começava parecendo qualquer outra, a chamada era feita e o professor anunciava de repente – daí a origem do nome – “hoje teremos uma repentina”. Era um zum-zum-zum, um bá-fá-fá, um trê-lê-lê, enfim, qualquer dessas onomatopeias usadas pra mostrar que uma situação, por ser um tanto estressante, causa momentâneo alvoroço.
Com certa crueldade velada e seu peculiar meio sorriso, nada velado, ele acrescentava, “tema livre”.
Papel branco, lápis preto, borracha branca. A coisa tinha potencial pra ficar preta e o sujeito amarelar. Era neguinho apertando os olhos fechados com a cara voltada para o céu, crendo que ideias caem do céu, era branquinho rindo da própria desgraça num sadismo às avessas, enfim, era na raça.
O processo, para alguns aniquilador, tinha então seguimento. “Vocês têm cinco minutos para, usando apenas uma folha – como se alguém na história das repentinas tivesse usado mais do que uma! – esboçar um produto inédito, definir em uma frase o seu conceito e dar a ele um nome, claro, inédito."
À queima roupa, como em qualquer outro anúncio da modalidade tema livre, o tempo te espreme e você espreme o cérebro num esforço heroico pra extrair algo no mínimo apresentável. 
O que era livre mesmo? Acho que só o tema.

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