Sempre fui tomado por algo entre satisfação e pavor quando o professor anunciava, do alto de sua quase celestial autoridade, "redação - longa pausa - tema livre".
Na faculdade de design igualmente acontecia,
mas já não era redação, era a repentina. Uma espécie de competição contra o tempo e contra a temível e oportunista falta de criatividade, brilhantemente resumida na expressão "deu branco".
Acontecia assim, a aula começava parecendo qualquer outra, a
chamada era feita e o professor anunciava de repente – daí a origem do nome – “hoje
teremos uma repentina”. Era um zum-zum-zum, um bá-fá-fá, um trê-lê-lê, enfim,
qualquer dessas onomatopeias usadas pra mostrar que uma situação, por ser um
tanto estressante, causa momentâneo alvoroço.
Com certa crueldade velada e seu peculiar meio sorriso, nada velado, ele acrescentava, “tema livre”.
Papel branco, lápis preto, borracha branca. A coisa tinha
potencial pra ficar preta e o sujeito amarelar. Era neguinho apertando os olhos
fechados com a cara voltada para o céu, crendo que ideias caem do céu, era
branquinho rindo da própria desgraça num sadismo às avessas, enfim, era na
raça.
O processo, para alguns aniquilador, tinha então seguimento.
“Vocês têm cinco minutos para, usando apenas uma folha – como se alguém na
história das repentinas tivesse usado mais do que uma! – esboçar um produto inédito, definir em uma frase o seu conceito e dar a ele um nome, claro,
inédito."
À queima roupa, como em qualquer outro anúncio da
modalidade tema livre, o tempo te espreme e você espreme o cérebro num esforço
heroico pra extrair algo no mínimo apresentável.
O que era livre mesmo? Acho que só o tema.
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