quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Utilidades da chuva na década de 70


Uma das melhores era a farra do banho em plena rua ao fim de uma tarde quente. Seu ápice eram as disputas pela bica formada na calha da Igreja Matriz, por onde vertia muita 
água que descia pesada por causa da altura do telhado, provocando uma quase dor e muitos risos nervosos. Era difícil suportar muito tempo.
A outra era fazer "guerra d'água". Acontecia com toda a turma em movimento, correndo pelas ruas e caçando as maiores poças d'água. O segredo era posicionar-se bem e o objetivo era atingir o rosto dos oponentes com o esguicho formado por chutes rasantes. De vez em quando alguém gritava "todos contra um"; um alvo era escolhido aleatoriamente e atacado por todos os lados até que pedisse trégua, já em meio ao desespero, que depois virava muitas risadas.
E assim que a chuva parava dava-se início a uma procissão colorida. Os meninos corriam para a rua com seus barcos, que eram cuidadosamente colocados em poças bem escolhidas. Esses barquinhos eram réplicas de canoas caiçaras entalhados em caixeta, uma madeira leve comumente usada para caixaria na indústria pesqueira. 
Viria outro dia, o calor provocaria outra chuva e a folia recomeçaria, como se fosse a primeira vez.

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