quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O milagre da sucata


Nem toda sucata pode sonhar em ser obra de arte. Este é um privilégio concedido, não conquistado. É preciso estar no meio do caminho de alguém como Carlos Drummond de
Andrade, que transformou pedra em preciosidade.

Pedra não é sucata 
mas bem que poderia, 
pois a ela, muitas vezes, 
não acompanha serventia.

Na árvore genealógica das artes a sétima é o cinema, a música, a matriz. Por aqui temos ainda triunfante a tão nossa teledramaturgia, cuja extrema primazia transforma arte em sucata e sucata em arte, vez por outra; torna banal a traição, apresenta a homossexualidade como alegoria social, revela pérolas da interpretação, propaga o melhor e o pior do Brasil com a mesma ânsia;

confunde amor com desejo carnal, 
faz do que é sério, carnaval, 
e segue produzindo e despejando 
sucata e arte por toda parte.

O homem que viu na pedra figurada um alvo para sua arte, segue inspirando e ensinando, teimosamente. Muito embora tentem reduzir sua poesia à citações pouquíssimo espirituosas, pela boca grande dos que não têm pernas para tanto caminho e param no meio, diante da pedra.

Nem toda sucata é inútil.
Nem tudo o que rima, poesia.

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