sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ascendência


Todo filho deveria ser pai antes dos 5 anos. Só assim aprenderia logo a ser filho. Nasce filho, mas não sabe ao certo o que venha a ser isso. É como ser forçado a
escolher uma profissão aos 17. Raros são os que estão certos do que querem e, entre estes, raros os que são felizes com a escolha.

Também raros são os filhos que o são antes de tê-los. Caso a flor de certa espécie fosse forçada a se abrir no inverno, não teria uma segunda chance. Mas os filhos têm. Aliás, muito mais do que a segunda, têm incontáveis oportunidades, dadas a eles por alguém que além de pai também é filho.

Filhos que têm filhos referem-se a seus pais de um jeito bem diferente. Passam a reconhecer olhares como poucos. E com relação aos seus, pressentem perigos mesmo sendo céticos. Vislumbram a mais remota ameaça e, caso surja uma mínima, lutam com instintos os mais primitivos, surgidos como espoletas, em defesa dos netos de seus pais.

O ser humano até tenta disfarçar, negligenciando obrigações que só cabem a genitores, mas a culpa que se expande ante a uma eventual ausência prolongada é tamanha que ele não hesita em lambuzar os seus com as delícias da compensação. Então, não por mérito mas em decorrência, tudo atinge um equilíbrio próprio, impróprio aos que ainda não são pais.

E aos que por precaução, por medo ou desventura, ainda são somente filhos, um conselho, nada os faça lamentar o que não têm, mas tudo os faça perceber, enquanto há tempo, que são filhos.

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