Limites

Conheceram-se nus e assim permaneceram por todo o tempo em que estiveram juntos. Andaram pela praia, percorrendo toda sua extensão pelo menos umas três vezes, enquanto
conversavam sobre tudo. Maldisseram os que os maldiziam. Riram muito. Contemplaram o mar. Contemplaram-se. Ela comoveu-se um pouco ao contar sobre a morte recente de uma de suas aranhas. Ele teve um início de comoção física, porque um pensamento acaba levando a outro. Enfim, contiveram-se.
Causaram certo frisson no estacionamento ao tomarem uma ducha, conversando tranquilamente, ainda nus. Isso porque o estacionamento não era propriamente um local para a prática, não de ducha, mas de nudismo, e reunia tanto carros de nudistas, quanto carros recheados de curiosos. Gente estranha que anda vestida e que adora observar gente estranha que anda nua, na praia.
Começou com um burburinho que logo passou a ajuntamentos generalizados de pessoas a apontarem, protestarem e fingirem decoro. Sim, há os que vão até a cerca sabendo o que vão encontrar do outro lado, espicham o pescoço, deparam-se exatamente com o que esperavam, e depois cobrem os olhos e abaixam o rosto, talvez na tentativa dissimulada de deixarem claro, a outros que também observam, o quanto desaprovam o que foram buscar.
Secaram-se com a mesma toalha, ao mesmo tempo, afinal já tinham uma boa intimidade e também porque à esta altura já não havia qualquer resquício de cerimônia entre eles e a galera do estacionamento. 
Ele estava de moto. Ela de carona com amigos que deixou na praia. Ele tinha um capacete sobressalente. Com ele ela cobriu a única parte de seu corpo que já estava coberta. Foram embora.