domingo, 27 de abril de 2014

Inspiração


Subiu com esforço em uma árvore fácil noutros tempos. Sua ousadia infante expirou-se antes do segundo andar. Teve medo da fragilidade de seus ossos, pondo a culpa na
fragilidade daqueles galhos muito finos. 

Mesmo à pouca altura, já parado em posto firme de sentinela ressuscitada, passou a sentir. Primeiro o vento, óbvio desde o início, só que ali um pouco mais. Forte, limpo e fresco. Depois o cheiro virgem de todo aquele verde barulhento. Olhou para cima a quatro apoios e notou um céu inusitado, num ângulo tão risonho quanto um desenho de criança. Estava lá o céu, 
coalhado de cores mestiças, dessas que não são vistas na rotina. Não se deteve mais, sorriu.

A tudo isso reunido assim, chamou paz.

Estava acima do chão, mesmo que ainda perto dele. E não importava mais nada. Nem a medida de tempo ou de distância ou a velocidade com que aquele tipo de alegria havia ficado para trás; muito menos a medida da velocidade que o vinha projetando para frente, sem freio.

Ficou ali a esquecer as horas e todas as outras responsabilidades. Segurou a Terra com a imaginação, que lhe surgia como língua morta ganhando fluência. 

Respirou. 

Arriscou soltar as mãos. Pensou estarem dormentes os seus pés mas não testou, quis manter-se em dúvida. De nada mais servia a certeza. 

Soltou-se.

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