terça-feira, 20 de agosto de 2013

Iglu

Branco e frio.

Uma paz indesejada e vazia invade o coração. Não é paz é solidão.

Dói nos ossos e entristece os lábios. Reúne os poros ao redor dos olhos provocando

sulcos que chamamos rugas.

O branco é só um véu que esconde o breu.

Um iglu sem porta se encerra em torno.

A angústia contamina o pensamento e devasta qualquer sinal de esperança.

Uma tempestade embaralha os sentidos e cospe longe a lucidez.

No livro "A pior viagem do mundo", Apsley Cherry-Garrard relata a última expedição do capitão inglês R. F. Scott à Antártica, entre 1910 e 1912. Nessa trágica epopeia, bravos homens foram postos às mais extremas provas em nome da ciência. Durante as incursões no continente gelado, entre outras agruras, eles eram constantemente fustigados por ventos de 60, 70, 80 quilômetros por hora sobre superfícies encrespadas, cravejadas de afiados cristais de gelo.

Em qualquer experiência, seja física ou mental, o homem tem dois caminhos. A loucura e a sabedoria. No primeiro ele envelhece e enruga-se sem ganho algum. No segundo ele agiganta-se numa fortaleza que o projeta para o conforto dentro de si mesmo. Aprende a consertar coisas e apreciar a simplicidade. Busca dividir e evita acumular. Prefere a serenidade à violência. Torna-se cauteloso e não covarde.

O mesmo gelo pode ser mortal e também trazer frescor e reconforto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário